Embora no Brasil a figura da
doula ainda não seja muito conhecida por todos, sua atuação tem raízes milenares,
ainda que não tivesse um nome para descrevê-la.
Na maioria das sociedades não
industrializadas, as mulheres sempre tiveram seus bebês na companhia de outras
mulheres além das parteiras. Essas mulheres serviam como apoio emocional e
físico, fazendo com que a parturiente tivesse segurança para atravessar as
dores e inseguranças presentes nesse momento tão importante.
Quando passaram a existir médicos
(e sempre homens, por muitos séculos), sua presença era considerada até mesmo
imoral já que o cenário do parto era um cenário exclusivamente feminino.
Formado por mulheres que, geralmente, já eram mães e conheciam o desenvolvimento
daquele fenômeno fisiológico envolto por um encanto místico.
No final do século XVII a figura
do médico começa a aparecer na cena do parto e, com ele (a grande estrela!), o
ambiente feminino do parto é desfeito. As mulheres começam a ter que parir
isoladas da fraternidade que antes a cercava, com pessoas desconhecidas ao redor, em posição desconfortável e com comandos obrigando seu corpo a fazer o que não sente que deve. Além disso, o caráter
intervencionista da medicina acaba transformando, principalmente no final do
século XX, a gestação em patologia e a gestante em uma “máquina” defeituosa que
o médico precisa arrumar para que o bebê seja “salvo”.
"Ei! Cadê a minha mãe?!?!?!?!"
Os encantos do parto dão lugar ao
medo, ansiedade, baixa auto-estima e descrença na capacidade do corpo – tudo o
que atrapalha a evolução de um parto vaginal e também a construção do vínculo
mãe-bebê, que tem como momento mais importante, a primeira hora após o
nascimento.
Nos anos 1990, o termo “doula”
foi utilizado pela primeira vez, pela antropóloga Dana Raphael, para referir-se às mulheres que auxiliavam as
novas mães para que a amamentação fosse bem sucedida.
Hoje, a Organização Mundial da
Saúde reconhece a grande importância das doulas e a melhora nos resultados dos
partos acompanhados por elas: reduz significativamente a necessidade de cirurgias
cesarianas de emergência, reduz a necessidade de anestesia (já que utiliza
métodos não farmacológicos para lidar com a dor), reduz o tempo do parto e
evita violência obstétrica.
Além de assistir às mulheres nos
partos – sejam eles hospitalares ou
domiciliares -, as doulas acompanham as
mulheres gestantes para que possam sanar dúvidas, acolher seus medos e
angústias, ajudar a formular os planos de parto, ensinar técnicas de
relaxamento, dar todo tipo de informação necessária para que na hora do nascimento
de seu filho, a mulher possa agir como protagonista da sua história e do seu
parto, sabendo que tem todo o conhecimento sobre o assunto e que não será
submetida a procedimentos com os quais não concorda ou que não devam ser
realizados.
O papel das doulas no pós-parto
também é de grande importância, já que auxilia a recém-mãe com a amamentação e
com os primeiros cuidados com o bebê.
Ainda, principalmente no Brasil –
que apresenta uma das taxas de cesariana e mortes maternas mais altas do mundo –
as doulas são parte essencial da luta pela humanização dos nascimentos. Luta
essa sobre a qual tratarei mais adiante.
As doulas são fundamentais para
que mulheres seguras e empoderadas tenham seus filhos de forma amorosa, sem
intervenções desnecessárias, que estabeleçam um forte vínculo afetivo com o bebê,
amamentem de forma eficaz, gerando pessoas mais seguras e felizes.
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